quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Daniel dedica o poema de Natal à namorada Bruna

Quis trazer uma estrela a ti...
Vi as tuas lágrimas irmão
Senti a tua impotência
De poderes trazer a luz
Alegrares a tua família
No silêncio eu escuto
O teu choro triste
Por não poderes dar
Aquilo que exigem de ti
Sentes medo das frias cobranças
Do que querem pedir este Natal
Olhas o frio olhar de teus filhos
A magra refeição posta na mesa
Querias dar outro Natal alegre
Mas a vida te ceifa as oportunidades
Olhas para o teu crucifixo chorando
Pedindo clemência a Deus
Mas nesse momento ilumina a mente
Como rasgos de luz cravados no coração
Pode faltar tudo mas nunca te falta
O real amor pela tua família
E como um milagre de Deus
Desce do céu uma bela estrela
Cravada de amor e esperança
Era a estrela da amizade
Que eu pedi de presente a ti
Meu amado irmão....
Betimartins

José Pinho dedica o poema de Natal à Rita, sobrinha recém-nascida

FALAVAM-ME DE AMOR
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia, "O Dilúvio e a Pomba"

Vítor escolheu este poema de Natal e dedica-o aos pais

Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinícius de Moraes
Janeiro 1960

Adriano escolheu este poema de Natal e dedica-o à irmã

NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça,

E o ponteiro pequeno a caminho da meta!

Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,

A trazer-me da água a infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.

Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!

E o Menino nascia a bordo de um navio

Que ficava, no cais, à noite iluminado...

Ó noite de Natal, que travo a maresia!

Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.

E quanto mais na terra a terra me envolvia

E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me

À beira desse cais onde Jesus nascia...

Serei dos que afinal, errando em terra firme,

Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira, "Obra Poética" 1948-1988